Questionamento
Patrimônio escondido ou protegido?
Em três anos foram 22 ocorrências de furtos registrados pela Secult e polícias investigam os crimes
Foto: Cintia Piegas - DP - Prefeitura pensa em alternativas para manter intactas as referências históricas
Quem vai à Feira do Livro na praça Coronel Pedro Osório em busca de conhecimento através da literatura, também pode ter uma aula sobre a história de Pelotas ao percorrer os quatro cantos do espaço natural, contada pelos casarões ao redor e pelos monumentos da praça. Poderia, se esses exemplares expostos no espaço público não tivessem sido alvos de bandidos e vândalos. Só nos últimos três anos foram 22 boletins de ocorrência registrados pela Secretaria de Cultura de Pelotas (Secult) relacionados a furtos e vandalismos. Percorrendo o local, o cenário é de destruição, sendo que alguns fica difícil saber de quem se trata, pois a referência não existe mais. A Prefeitura pensa em alternativas para manter intactas as referências históricas e, enquanto não há uma solução, outros monumentos que estão na mira dos criminosos foram retirados e mantidos preservados.
Um deles é a escultura do Negrinho do Pastoreio, feita em bronze. Ela ficava na avenida Bento Gonçalves, em frente ao Colégio Municipal Pelotense e quando as equipes da Secretaria perceberam que ela poderia ser levada, foi retirada, passou por uma limpeza e hoje se encontra protegida por plástico para evitar arranhões, dentro do Casarão 6. De acordo com o titular da Secult, secretário Paulo Pedroso, pensa-se em um espaço para expor a escultura, com possibilidade de ser o Instituto João Simões Lopes Neto. "Neste lugar, antes de ser o Negrinho, estava o busto de Camões com a placa. Nós tiramos e o monumento foi colocado em frente ao Guanabara. A Sociedade Portuguesa fez a placa de uma material sem valor e ela está bem preservado", contou.
Por falar em material substituto, esta foi uma das alternativas para a homenagem ao ex-presidente Getúlio Vargas, quando ainda existia o busto na rua 15 de Novembro, esquina praça Coronel Pedro Osório, e furtado em 2022. "O autor do furto a retirou, viu que não tinha valor e a deixou em frente à Bibliotheca Pública Pelotense (BPP), local que também sofreu com a criminalidade de Pelotas. Das cinco placas que um dia ornamentaram a fachada, duas foram furtadas e três foram retiradas para não parar na mão de criminosos e derretidas. De acordo com o presidente da entidade, Sérgio Cruz Lima, elas estão guardadas no Museu, e serão colocadas no hall de entrada do prédio.
Cenário atual
Quando não é possível levar a peça, a alternativa é descaracterizá-la. O monumento ao coronel Pedro Osório, que dá nome à praça, é feito em granito e bronze, sendo que na base há um baixo relevo intitulado das Três Idades do Trabalho (obra de Antônio Caringi) está totalmente pichado. Outra importante personalidade, e que só pode ser reconhecida caso a pessoa a identifique pelo busto, é Domingos de Almeida, sendo que atualmente a placa que faz sua referência não existe mais. A escultura de Antônio Caringi às mães também está sem identificação. A mais danificada, pois além de furtar o material metálico, o mármore que reveste o pedestal foi quebrado é a do Doutor Miguel Rodrigues Barcellos, obra de Antônio Campins.
Nem mesmo as luminárias em torno do Chafariz das Nereidas foram poupadas. Das oito que contornam o monumento, parte de quatro delas - que ficam no suporte - sumiram. Porém duas conseguiram ser recuperadas e estão guardadas na Secult, juntamente com mais seis placas: Homenagem a Bruno Gonçalves Chaves, Sesquicentenário da Revolução Farroupilha; homenagem ao Bispo Joaquim Ferreira de Melo; placa indicativa da praça Coronel Pedro Osório, além de uma placa pedindo pela preservação e zelo do monumento. Também estão protegidos, os 54 rostos humanos e figuras de animais do gradil do Casarão 6.
Medidas
Como os monumentos integram praças e parques tombados pelo Iphan, a Polícia Federal (PF) está encarregada pela investigação. A Secult já esteve reunida com o delegado Robson Robin para saber o que está acontecendo e tentar uma explicação para tantos furtos. A justificativa está no valor do metal, muitas vezes bronze, cobre ou latão, que derretido, pode render no mercado paralelo. "Quando o bem é tombado pelo Iphan, a competência é nossa, mas às vezes, se confunde com um bem da Prefeitura. Os autores são comuns e não sabem o que estão levando, pois o que interessa é o que vai ganhar por ele", sinalizou o delgado Robin.
Soluções
Pedroso lamenta e diz que a situação é difícil. "Mesmo com a praça iluminada, acontecem os furtos. A Guarda Municipal ajuda. Inclusive quando foram procurar o busto de Bento Gonçalves, levado do parque Dom Antônio Zattera, encontraram o do Doutor Joaquim Rasgado." A peça está no salão de exposições da Secult juntamente com um painel que ficava junto ao busto do doutor Urbano Garcia, quase em frente ao Grande Hotel e uma placa em bronze em homenagem ao escritor e jornalista Jorge Salis Goulart.
O secretário admite que a partir da provocativa da reportagem, já se tem algumas ideias que surgiram dentro da pasta e outras que partiram da população para a destinação dessas peças. "Uma delas, um cidadão propõe pegar os maiores monumentos e colocá-los em um dos becos entre 15 de Novembro e Andrade Neves, em um sistema de visitação, como uma galeria. Mas isso requer gastos." Para Pedroso, o interessante é que a Secult está sendo alertada para a iminência do furto, garantindo a chance de retirar a obra antes que ela suma para sempre.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário